quarta-feira, 26 de março de 2008

Sobrevida

Política no Brasil é uma coisa engraçada e nunca me agradou. Fiquei 5 anos da minha vida no centro político brasileiro e ainda assim nunca me chamou a atenção. Participei do movimento caras pintadas quando ainda era criança, lembro de estar na esplanada, cercada de gente realmente revoltada com a situação política brasileira, e tudo que eu conseguia pensar era "que vergonha dessas pessoas gritando: 1, 2, 3, 4, 5 mil, queremos que o Collor vá para...!" (a rima é possível deduzir!) Tudo bem que eu tinha 6 ou 7 anos de idade e não tinha a mínima idéia da realidade do governo, aliás, acho que nem sabia o que era isso. Tudo que eu entendia naquela época é que o presidente tinha roubado, e como a gente aprende desde criança que roubar é errado, ele tinha que ser punido de alguma maneira.

Alguns anos depois de ver a revolta dos cidadãos nas ruas da capital nacional, vi também o tal marajá ser reeleito no seu estado. Li e estudei o papel da imprensa na eleição do tal presidente jovem e arrojado, a edição do último debate político antes das eleições, a forma como a própria mídia o colocou em destaque e depois ajudou a destruí-lo. Talvez tenha sido aí que nasceu o meu desinteresse.

Toda a sujeira que envolve, e sempre envolveu, a política nacional pode ser um estímulo para alguns quererem entrar neste meio para mudar, fazer a diferença. Eu sou um pouco descrente com relação a mudanças. Tenho uma grande desconfiança de pessoas que dizem ter mudado da água para o vinho, e acredito que mudar todo um sistema que funciona há 500 anos com base na corrupção e favorecimento de poucos é utópico. Não sou pessimista e também não defendo o atual sistema, mas acho que no meio de tanta roubalheira, escândalos e crises, muitos já tiveram a oportunidade de fazer a diferença para o povo e fizeram a diferença para o bolso. Acho que não sou a única brasileira descrente dos políticos.

Chego à conclusão que para fazer política é preciso ter um dom. Com certeza não nasci com ele e há alguns anos criei uma aversão a quem participa dos movimentos políticos. É, eu sei, como jovem jornalista eu deveria ser uma daquelas pessoas engajadas em movimentos políticos e sociais, para fazer a diferença e salvar o mundo do capitalismo destruidor que acaba com a oportunidade de muitos e privilegia poucos. Eu sei bem como é o discurso, acredite. E por isso não gosto dele. Toda vez que eu escuto um desses discursos sociais, que querem o bem de todos e dar oportunidades iguais para que todos possam ser felizes, vem à minha mente, sem que eu perceba, a imagem da propaganda de pasta de dente e a frase "Vamos salvar o mundo das cáries!". É errado e maldoso, eu sei, mas é mais forte do que eu.

Toda essa intensa aversão à política vem de um trauma no meu relacionamento, mas com certeza foi intensificado ao longo dos anos, com todas as notícias de corrupção e má índole de quem está no poder, especialmente nos anos de eleições. Parece que aqueles que acusam nunca tiraram nem um centavo dos cofres públicos para benefício próprio, mas sabem muito bem como funcionam os sistemas de corrupção da oposição.

É ano de eleição é assim, qualquer indício de falcatrua nos outros partidos é motivo de investigação, até aquilo que não é exatamente roubo dos cofres públicos. Ou talvez seja. Não sei. Se aproveitar do dinheiro público é tão comum que exigir uma passagem aérea pode parecer inofensivo, mas quando é colocado no jornal e povo escuta "passagem aérea para prestadores de serviços" pode parecer mais um parente favorecido com umas férias no nordeste, pagas com dinheiro do contribuinte, claro. Ninguém pensa que é um profissional sério, que quer lutar por uma melhora no sistema de saúde.

Tudo isso para dizer que ontem, a ganância de alguns para estar no poder tirou aquele meu aperto no peito que estava me deixando louca. Não sei se por muito tempo, mas ganhei alguns dias ou semanas de paz interior.

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