terça-feira, 25 de março de 2008

E agora, José?

Alguns poemas ficam eternizados. Talvez seja por que eles foram tão massacrados na gente quando estávamos na escola que eles simplesmente ficam na nossa cabeça e a gente faz questão de lembrarmos deles, para parecer que somos cultos ou algo do tipo. Eu passo longe de ser super culta, mas esse poema de Drummond representa muito bem o meu estado de espírito no momento.

Só para relembrar:

José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José? e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocassea valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua para se encostar,
sem cavalo preto que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Pra onde? Se eu soubesse iria.... não é por falta de vontade que não vou. Quem me conhece sabe que vou, mas estou me sentindo um José. Sem opções, e aquelas que me restam não me agradam, devo confessar. Na verdade cansei. Cansei de ser José, de me sentir mais sofredora que as mocinhas das novelas mexicanas, definitivamente o papel de Maria do Bairro não serve para mim. Mas é assim que tenho me sentido ultimamente e talvez seja esse o motivo de eu estar tão insatisfeita com o meu atual estado de espírito. Não gosto de dramas e tenho me sentido em um eterno drama, desde que a cortina fechou. Até então tudo era festa. Fevereiro é sinônimo de festa e realmente foi. Até a metade do mês tudo foi uma grande festa. Ainda era férias, eu tinha essa desculpa. Mas aí chegou março, e a realidade começou a se mostrar, cada vez mais forte, cada vez mais chata e, com certeza, mais desesperadora.

Sinto que a minha vida está passando, e que eu sou uma mera espectadora desse filme chato, daqueles que dá vontade de sair no meio, pra ir no banheiro, comprar pipoca ou até conversar com o tiozinho da portaria. Qualquer outra coisa com certeza seria bem mais interessante. Mas aí está mais um drama chato. Ainda bem que ninguém é obrigado a ler isso aqui até o fim, porque dramas nunca são bons. Talvez eu ainda tenha que aprender alguma lição de tudo isso que eu estou vivendo, mas no momento tudo que vejo é um tremendo DRAMA! Não se sinta culpado se você vier falar comigo e quiser me contar as mil maravilhas que aconteceram na sua vida. Não sou daqueles que se estou no fundo do poço quero que todos se joguem comigo. Prefiro estar rodeada de pessoas alegres e satisfeitas, até porque assim me livro desse estado de espírito dramático que me consome (e olha o drama aí gente!).

Estou começando a achar que isso aqui é uma ótima terapia. Quando comecei a escrever estava com um tremendo aperto no peito. Não que ele tenha ido embora, até porque o motivo maior do meu drama é esse aperto que me deixa louca e não me deixa dormir, mas escrever com certeza alivia as tensões, acho que dá aquela sacudida nos pensamentos e faz colocar em ordem tudo aquilo que estava jogado dentro de uma caixinha lá no fundo.

É, o aperto continua.....

Um comentário:

Pedro Martins disse...

Vamos conversar a respeito? Voltar aos nosso e-mails terapia? Sempre é bom conversar, e como vc. sabe o meu carinho paternal por vc. existe, se quiser conversar estou a postos e vc. sabe me achar.
Mil Bjs.