sábado, 19 de setembro de 2009

Cegos que enxergam



Minha mãe, como uma boa psicóloga, é cheia de ensinamentos. Uma das frases que ouço repetidamente é “o pior cego, minha filha, é aquele que não quer ver”. No mesmo contexto que minha mãe aplica este conselho, um grupo de amigas tem usado muito outra frase: não vamos se enganar! (o erro de português, nesse caso, é proposital).

Ultimamente tenho convivido com algumas pessoas que estão precisando passar uns dias com a minha mãe e com as minhas amigas para perceberem a realidade que as cercam. É até triste de ver!

Entretanto, ao constatar o conformismo dessas pessoas, é possível entender porque elas criam a sua própria versão da realidade e preferem acreditar piamente nisso, sem questionar atitudes e valores das pessoas que as cercam ou até mesmo se questionar, o que já seria um bom começo. Filha de psicóloga que sou, acredito que expor seus pensamentos e problemas para uma outra pessoa é uma forma de organizar todos os sentimentos que estão dentro de você e, ao se ouvir, já é possível encontrar uma solução. É claro que em alguns casos a ajuda de um profissional é indispensável, mas o desejo de mudar é sempre imprescindível.

Por isso, se você não quer ver seus problemas, por favor: mantenha a distância.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Informações desnecessárias


6h30 da manhã toca o despertador. De soneca em soneca, meu corpo só consegue acordar às 7hs. Arrumar a cama, café da manhã, frio ou calor, escolher a roupa, sapato, maquiagem para melhorar a cara de sono, toda a documentação conferida. Em menos de uma hora estou no consulado, crente que dessa vez seria uma das primeiras a chegar. Engano meu. ''Tem gente que não usa tanto o soneca quanto eu", foi a primeira coisa que pensei quando vi quase dez pessoas na fila. Tudo bem, meu humor não foi abalado. Até fiquei feliz, afinal, com meu livro embaixo do braço eu teria tempo de sobra para colocar a minha leitura em dia. Depois de duas horas acordada, já sei da história de todo mundo que está lá. "Minha irmã está na Itália e faltou um documento para ela conseguir tirar a cidadania", "minha vó decidiu mudar de nome quando chegou no Brasil, e mudar mesmo, nenhuma certidão que ela tem repete o mesmo nome", "mas moça, da última vez que eu vim aqui me disseram que só faltava esse documento", "ah, tem que ser autenticada? Não sabia"... e por aí vai. Por via das dúvidas, tiro a listinha de documentos que me foi entregue e confiro novamente para ver se está tudo ok. Esse é o tipo de lugar que a gente não quer ir toda semana.

Depois de um bom tempo e alguns capítulos do meu livro, finalmente sou chamada. Ficha preenchida, ok. Cópia do passaporte, ok. Cópia da identidade, ok. Comprovante de residência, ok. Fotos 3x4, ok. "Hum, tudo certo", diz o atendente. "Cor dos olhos?", ele olha para mim e confere: "Castanho". "Altura?". Minha expressão de dúvida e desinteresse foi clara. Eles podiam perguntar peso, medida da cintura, busto e quadril, valor do salário, número do meu pé, cor do cabelo, comida preferida ou qualquer outro tipo de pergunta pessoa pessoal, mas altura? Qual a finalidade do governo italiano saber minha altura, meudeus? Será que a Itália é que nem os brinquedos mais radicais de parques de diversão? Só são permitidos cidadãos que ultrapassem uma certa altura?

Vindo de italiano, a gente pode esperar qualquer tipo de preconceito...